Estava de serviço no Alto Chicapa, era o chamado oficial de dia, mas neste caso, era da noite. Como de costume dava o meu passeio em paz, no meio de uma grande cidade de estrelas.
A determinada altura, as estrelas fugiram e a paz passou a pesadelo.
- Então C, estás bonito… já nem dás com a caserna! Deixas-te o destacamento?
- Não! Não quero conversas consigo… foda-se!
- Que mal te fiz? Calma, é para ali e vai lá embora… toma um banho!
- São todos uns cabrões, chicalhada! Não quero conversas, já disse, só falo com a minha mãe! Hoje estou de sentinela sem parar!
Deixei-o. Continuou de mal com a vida, com todos e até o quico enfiado na cabeça o revoltava. Perguntava insistentemente, quem vem lá… quem vem lá... lá, lá, lá lá lá?
Passado uns dias, não desisti, de chegar à fala com ele. Era um rapaz educado, embora um pouco revoltado. Foi fácil dar-lhe alguma razão, percebeu-me e conseguimos ter uma conversa muito agradável (ainda adoro uma boa conversa de amigos).
- Vim do Cambatxilonda, não sei se de castigo, o homem é duro, não sabe brincar, mesmo aqui na mata…, se um tipo… leva logo uma “piçada”.
- Sabe! Andava de pau feito e sem a possibilidade de o desfazer, até doía!
- Entendo, um homem de pau feito não é a mesma coisa que um homem feito de pau!
- Aconteceu ou deram-me qualquer porra!
- Fui dar uma volta pela aldeia. A determinada altura fiquei a olhar para uma, era ela, escura no escuro, imaginei-a logo, descascadinha. Nunca a tinha visto assim, mas é como a tivesse visto, estendida, oferecida, só com o lençol por cima, até estava calor, o meu olhar estava perdido e o pau… todo no ar… deves ser um espanto, agora é que vai ser, beleza, não te assustes.
- Já percebi! Assustou-se e deu merda!
- É verdade, mas não se assustou, até lhe soube bem e era uma doida a foder de lado, só que no fim… queria muito dinheiro.
- Já viste, os tipos podiam estar feitos com ela ou sabe-se lá quem, até podiam aparecer nos bicos dos pés e darem-te cabo do canastro. Agora que tudo está mais calmo, digo-te, ia ser bonito, um tipo morto a caminho do putu de piça… ou melhor de pau feito…
- Era uma vergonha, foooda-se…
Agradecimentos:
À família 3485.
Convosco, continuo jovem e a sonhar... e percebo, que para alegria de muitos, ainda vemos o mundo desta forma!
Ao Manuel Carvalho e ao seu blog Paragem Leste.
Obrigado, é uma nova delícia de recordações.
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Relativamente aos meus comentários às tais cagadeiras, agora acrescento esta fotografia, pois, como enfermeiro, talvez consigas, no meio de tanta porcaria adivinhar os milhões de salmonelas e outras... onde estaria o tipo dos colhões cor-de-rosa quando se lhe reportavam as situações...
Ao nosso manel, o Manuel Esteves e ao seu blog Cambatxilonda.
Parabéns, achei a estreia plena de sensibilidade e com muito que ler nas entrelinhas, até me lembrei do episódio que acabei de contar. Estou ansioso pelo próximo tema.
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(cedida por Álvaro Marques)
Deixo esta fotografia… tantas recordações!
Finalmente, aos que estão atentos ao nosso site.
Deixo um verdadeiro muito obrigado, a todos, quantos, com maior ou menor regularidade, nos têm honrado com o prazer e a importância das suas visitas.
Carlos Alberto Santos