Fez muitas amizades com o inimigo?
Uma vez, no meio de uma tempestade, aterrei numa pista que encontrei para me safar. E estive uma noite à conversa com um comerciante local, que me acolheu e me contou que tinha filhos de africanas, como todo o bom português. E dois eram terroristas. Recebeu-me lindamente e, muito calmo, ao jantar contou-me aquilo. "Então mas você diz-me uma coisa dessas?", perguntei. "O que quer que lhe diga? A realidade é esta", respondeu. Em Teixeira de Sousa, que era uma cidade fronteiriça, sempre em ebulição, havia um hotel que era uma espelunca, pior que qualquer estalagem do antigo Bairro Alto, o Hotel Sepol. E Sepol era Lopes ao contrário, o que representava o espírito da cidade: era tudo ao contrário. Encontrávamos lá mercenários que vinham do Congo aviar-se... Tive grande amizades, tanto com brancos como com africanos. E tenho uma filha que nasceu lá, o cartão de identificação diz que é natural do Luache, que ninguém sabe onde fica.
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Muito difícil, porque não é só um fenómeno nosso, é mundial. Veja o Brasil, Israel... Perderam-se os objectivos e uma certa ética. Mas isto não vai lá com revoluções, só vai lá com a evolução. Sou contra revoluções, veja a tragédia que foi a Revolução Francesa, que toda a gente diz que foi uma coisa bestial, mas que foi o início de uma época tremenda, que ainda estamos a viver. Pode parecer blasfémia, mas é verdade. O que precisamos é de evoluir, de resgatar valores. Olhe, outro dia fui a Serralves, entrei numa sala e estava uma lâmpada pendurada e um escadote por baixo. O meu primeiro pensamento foi: o electricista esqueceu-se do escadote. E é chato, num museu. Vou ver e o escadote era a própria obra. Mas era um escadote normalíssimo... É de mais! Enfim, calhou-nos a nós esta fase mais difícil, temos de a viver. Mas isto vai melhorar.
Carlos Alberto Santos