Paris, um terramoto de (des)ilusões. Viagem dos Ex-Miltares da cc3485.
Paris é uma cidade multicultural. Por entre residentes e turistas, encontram-se pessoas vindas de todo o mundo. No entanto, e apesar de cosmopolita, Paris soube manter a sua identidade e como tal é possível sentir ainda um pouco do sentimento francês, pelo menos no centro.
Na periferia é o contrário, a crise económica deixou marcas de terceiro mundo, desequilíbrios sociais, miséria e não pude deixar de reparar numa certa tensão entre pessoas, talvez o espelho dos muitos conflitos sociais com os quais o país se debate.
A pé, de Montmartre e Pigalle a Port de La Chapelle, entre população com ar de aparente indiferença, apercebi-me de um latente sentimento de revolta e contestação.
Em termos de segurança, não me senti em altura alguma inseguro ou com medo de andar pelas zonas turísticas. É certo que dados os acontecimentos recentes a atenção e o cuidado da polícia aumentou consideravelmente. Um pouco por todo o lado havia polícias fardados e armados com metralhadoras a patrulhar ruas e monumentos.
Onze horas da noite: onde está Paris?
Este largo varrido pelos primeiros pingos de chuva, mal iluminado por fantasmas de candeeiros, deserto de um lado e do outro; ainda é a Ópera?
De seguida, no Sacré-Ecour, Paris, sem o prestigio da luz, aparece-me irreal, como suspensa entre o ser e o não ser já.
Salvem-se os jardins, a Torre Eiffel e os outros monumentos de tantos vendedores e de pessoas sem escrúpulos.
No meu (nosso) hotel em La Chapelle, uma ilha de conforto, deu-se-me um nó na garganta e senti, cá de dentro, uma grande cólera. Pus-me a olhar pela janela, esta terra que não é minha, com viadutos lançados sobre abrigos de restos de pano, cartão ou madeira, muita porcaria, espólios de roubos recentes e muitas pessoas, de várias raças e credos, abandonadas e sem esperança, entre larápios, drogados e prostitutas.
Se fiquei apaixonado por Paris como aconteceu em outros tempos ou como tanto se fala? Não.
Paris é uma cidade lindíssima, com muita história e encanto, mas já não é aquela cidade que arrebata pelo sentimento francês.
Apesar de tudo foi uma viagem interessante, de onde saí mais rico. Agradeço, a todos a boa disposição e a excelente companhia. Aos ex-3485, o meu bravo pela resistência ao comodismo do sofá lá de casa e aos preconceitos bolorentos.
Carlos Alberto Santos
Vídeo de Francisco Luz