De passagem... por Atenas, Grécia
Atenas é a mais oriental e uma das mais velhas capitais do mundo ocidental.
Os seus primeiros habitantes escolheram uma colina rochosa, pelas defesas naturais, para se instalarem. Na mitologia relatam uma luta entre Atena e Posídon, da qual saiu vencedora a deusa virgem, em honra da qual se dedicou a Acrópole, tendo como monumento mais famoso o templo, a ela dedicado, Pártenon, o templo da virgem. A Acrópole (a cidade alta, em grego), teve o seu apogeu cultural, comercial e militar, no tempo de Péricles, governante, político e estratega.
Quando cheguei a Atenas, fiquei irremediavelmente atraído por aquela colina de rocha calcária e pelas colunas de mármore branco, com vinte estrias.
Com a destreza, que os meus 70 anos o permitem e o entusiasmo de chegar perto do Pártenon, ídolo da minha adolescência, dou comigo em subida acelerada atrás de uma guia, que teimava numa medíocre atitude de liderança, sempre, mais, interessada em posicionar-se à sombra e despejar, despejar a cassete… depois, temos que andar, o programa é intenso, despachar… depois, o que impressiona aqui, é o tamanho e as colunas, agora, importante, é o templo Erecteion, bem mais pequeno, dedicado ao herói Erecteu, onde se destacam as estátuas das jovens sacerdotisas, que servem de colunas na entrada, as Cariátides, mas… conta a lenda, que, aqui, Posídon (deus do mar) espetou o tridente na rocha e saiu água e Atena criou a árvore de oliveira… tudo mitologia, mas… o meu fascínio por isto e o que restava da aprendizagem na minha adolescência perdia-se aos poucos entre o relativismo das explicações, à displicente visita e à forma desinteressante como se abordou o templo dedicado à deusa Atena, o símbolo da Grécia e da democracia.
Segundo a minha visão, ainda anda por ali uma imagem de desleixo de quem deixou tudo aquilo chegar a um ponto vergonhoso, mas que as atuais obras parecem querer disfarçar.
Apesar de tudo, no local, decido abandonar a guia, dar largas ao meu espírito e viajar, de papel na mão, como pude, naquela complexa densidade histórica. Voltei ao Partenon e às suas colunas, ao Propileu, o portão para a parte sagrada da Acrópole e ao Templo de Atena Nice (Vitória), simbólico da harmonia e das vitórias sobre os persas.
Lá no alto, ainda olhei em redor, para a colina Leabeto, com a capela de São Jorge no topo, e para o mar Egeu, num amplo horizonte, onde me perdi em imaginação, pelas épocas, da Guerra de Troia, das aventuras de Ulisses, que li e reli, e dos filósofos Aristóteles, Platão e Sócrates.
Depois, caminhando na encosta sul, ao lado do santuário de Dionísio, o teatro de Dionísio, o mais importante da Grécia antiga onde se representaram pela primeira vez as tragédias e as comédias.
Também junto da Acrópole, o magnífico Odéon de Herodes, construído à imagem dos teatros romanos, que, ainda hoje, recebe muitas manifestações artísticas, como o festival de Atenas.
Na parte baixa da colina, lá estavam o Areópago, onde se reunia o tribunal e a porta de Adriano ou arco de Adriano, que marcava os limites entre a cidade de Adriano e a cidade de Teseo, e o estádio Panateniense do século IV a.C. restaurado para os jogos olímpicos da era moderna.
A praça Sintagma, moderna, que significa Constituição, mereceu uma visita a pé. O parlamento grego está na sua parte superior. Aí, é possível apreciar o render da guarda entre manobras, vestes e outros formalismos aparentemente caricatos.
O bairro de Plaka é para Atenas como Montmatre é para Paris. É o tradicional centro da cidade, desde a antiguidade, para compras ou um simples passeio à noite, entre uma multidão de turistas, vestígios arqueológicos, igrejas, artistas, ruas tipicamente estreitas, com lojas variadas de ambos os lados, restaurantes, bares e esplanadas com uma enorme afluência.
Apesar do brilhantismo do passado e da sua riqueza cultural, a cidade de Atenas não escapou, como outras capitais europeias, aos ideais vigentes nas políticas de empobrecimento das populações, uma espécie de genocídio económico.
Doeu-me o que vi, a extrema pobreza e o recurso ao caixote de lixo, mesmo com a abundância desmedida noutros locais, a evidente degradação das habitações e a droga consumida por dezenas, ali à luz do dia, num passeio público a caminho da Praça Syntagma.
Precisamos de reinventar a vida… talvez o brilhantismo deste passado e a riqueza cultural grega, ajudem.
Carlos Alberto Santos