De passagem... Belfast, Giant’s Causeway e Carrick-a-Rede, Irlanda do Norte - Agosto 2019
Quando penso em Belfast, a primeira coisa que me vem à ideia é o St. George’s Market. Dizem… é uma das atrações mais antigas da cidade e um dos melhores mercados no Reino Unido e da Irlanda. Um espaço, que não vi. Pertence ao meu “imaginário literário”, onde a conspiração se reforçava entre vendedores, artesãos e muita cerveja.
O meu segundo pensamento vai para os murais. Atualmente chamam-lhe arte… mas, a viver num país multirreligioso, culturalmente diverso e de várias cores políticas, senti vergonha da situação: Pessoas de uma cidade separadas com muros e portões e, pior, a odiarem-se de morte.
A visita panorâmica levou-nos até aos muros, que ainda reinam e separam os bairros católicos dos protestantes. Já tinha visto outros muros, com a mesma e outras finalidades, mas não esperava tanta proximidade às casas e às janelas. É inaceitável uma sociedade destas, com lideranças a adiarem decisões importantes… talvez mude em 2023, dizem.
Para os mais atentos, o conflito está lá entre pinturas e grafitti ou arte, como lhe queiram chamar… para os turistas, a hipocrisia vende os muros da paz ou o protesto pacífico… no meu olhar, até nas sombras, há tensão, provocação e ódio.
Meio século depois dos conflitos continuam a dizer, que ainda não há condições para os destruir. No passado mês de Agosto (2019), ao fim da tarde, numa rua que liga os dois bairros, presenciámos um dos portões fechado eletronicamente, para não permitir a circulação de veículos ou pessoas e evitar conflitos.
Apesar da cultura e das belezas naturais, fiquei com vontade de esquecer esta Belfast… é impressionante, como nos dias de hoje, uma cidade do “Brexit” ainda pode estar dividida por questões religiosas.
No centro histórico, vimos a Casa da Opera, a City Hall, o edifício emblemático da Câmara Municipal, o inclinado Albert Clock, mais conhecido como o “Big Ben de Belfast”, um monumento em memória do príncipe Albert, marido da Rainha Vitória de Inglaterra e a Catedral de Sant’Ana, conhecida como Catedral de Belfast. Durante o circuito, chamaram-nos a atenção para o hotel Europa e para os 36 bombardeamentos a que foi sujeito durante a revolução dos anos de 1970.
Depois, seguimos para a região Titanic Quarter, para uma visita aos estaleiros Harland & Wolff, local onde o navio Titanic foi construído no início do século XIX com o estatuto de o maior e mais luxuoso navio de passageiros.
A luxuosa Nomadic, que foi recuperada da sucata, lá estava. Era uma embarcação auxiliar, que levava os passageiros da 1ª e 2ª classe do cais pouco profundo em Cherbourd para o Titanic. É a única sobrevivente da White Star Line.
Ao lado dela, a “She”, como era identificada, está um edifício de 4 andares, a projetar-se no espaço como se fosse a frente de um grande navio, o Titanic Experience, um museu, o maior tributo ao Titanic, que não visitei.
Apesar de tudo, foi na costa norte, num ambiente rural mergulhado em beleza, história, magia e lendas, que encontrámos o melhor da Irlanda do Norte ou a 8ª Maravilha do Mundo, a famosa Giant’s Causeway (Calçada dos Gigantes), em frente ao mar, um promontório, de colunas de basalto de aproximadamente 6 km.
Começámos numa estrutura turística muito moderna com, transporte, alimentação, lojas, instalações sanitárias e um apoio documental e digital muito completos. A visita ao parque natural foi apoiada por um sistema de áudio, em português, que ainda tornou tudo mais belo. Ficámos cerca de duas horas com as explicações audio e em movimento entre falésias, pastagens, praias e pântanos, que são o lar de cerca de 50 espécies de aves, bem como de mais de 200 espécies de plantas.
A Calçada dos Gigantes é de uma beleza irresistível. Existem cerca de 40.000 pilares de pedra, com polígonos de cinco a sete lados, sobressaindo das faces do penhasco como se fossem degraus até ao mar.
No centro de interpretação, um filme conta-nos a lenda irlandesa do gigante chamado Finn MacCool que queria lutar com um gigante escocês chamado Benandonner. Como não havia uma embarcação suficientemente grande decidiu construir uma calçada com enormes colunas a ligar a Irlanda do Norte à Escócia. Benandonner aceitou o desafio e viajou pela calçada.
A esposa de MacCool, percebendo que Benandonner era maior e mais forte decidiu vestir o marido como um bebé.
Quando Benandonner chegou e viu o bebé, assustou-se: Se o bebé é assim gigante, então o pai… e foge para a Escócia, mas para não ser perseguido, destrói a estrada enquanto corre, restando apenas as pedras, que hoje se vêm.
A Irlanda do Norte rural que visitámos era uma ínfima parte do que haveria para ver num país onde a monumentalidade não faz parte da paisagem e onde atrás de cada falésia pode estar uma vista maravilhosa, um castelo em ruinas… ou o sabor da aventura.
Seguimos para um outro parque onde se encontra a ponte de corda suspensa mais famosa do Reino Unido, que se liga a uma pequena ilha, a Carrick-a-Rede, usada por pescadores de salmão. A ponte é segura, apesar de estar sujeita a ventos, aos seus 20 metros comprimento e de estar a 30 metros acima do nível do mar.
O percurso a pé, até lá, como é longo e com degraus em declive pode tornar-se penoso para os menos preparados, mas a geologia e a beleza da paisagem são únicas.
Hoje a ponte, é, descaradamente, uma fonte de receitas, uma atração para o “bicho turista” e, também, uma experiencia terrível se tiverem medos durante a travessia. Apesar de ter aproveitado toda aquela beleza, pessoalmente achei a visita dispensável.
Carlos Alberto Santos