O terço na mão e o diabo no coração: o diário secreto do Padre Fontes
Quem pegar num mapa e percorrer com um dedo a linha da fronteira norte do país, encontra Vilar de Perdizes entre o lado transmontano do Gerês e a cidade de Chaves, numa região conhecida por Alto Barroso. A aldeia não tem mais de 200 almas, gente que até aos anos 1980 viveu do contrabando e hoje ganha sustento com o gado. É por isso habitual ter dificuldades a entrar no povoado ao fim da tarde: a hora do crepúsculo enche a única estrada de acesso a Vilar de bois de raça barrosã, que regressam à corte após um dia de pasto.
Mesmo no centro do lugar fica a casa de António Lourenço Fontes, padre. É edifício mais comprido do que largo, com paredes de granito e pequenas janelas quadradas por onde a luz entra sempre focada. Nas habitações transmontanas raramente o sol se mostra capaz de inundar um quarto inteiro - e a do Padre Fontes parece estar sempre mergulhada numa relativa penumbra. É aqui, nesta casa escura com paredes forradas de livros, que começa esta história.
............................................................................................................................
Na sua casa em vilar de Perdizes, onde para além de livros e destes diários esquecidos há uma série de máscaras do diabo - que foi recolhendo nas suas viagens pelo mundo - Fontes agarra-se a uma e diz-lhe numa voz já velha, já pouca. "Tu a mim não me metes medo. A ti, Satanás, eu agarro pelos colhões."
Texto de Ricardo Rodrigues / Diário de Notícias
Carlos Alberto Santos